Ano,
novo
Agora,
que esperei que algo estranho pudesse acontecer,
Não
sei, qualquer coisa, como um sol avermelhado ou um dia mais curto,
As
coisas, insistentemente continuam normais.
Agora,
que tirei a máscara, e vi o sangue descer pelo rosto,
O mundo se apresenta com sua lucidez absoluta,
Tudo
é inexplicavelmente normal e quotidiano.
Não
há novidades, o chão não cede quando pisamos com mais força,
É
tudo sólido, rígido.
Agora,
que a saudade é uma palavra sem sentido que ficou cravada
Na
pedra lisa das minhas angústias; o tempo não se apressa, e me fala com essa
linguagem particular que cada um possui.
Nasci
de novo para o mesmo mundo meu, e a luz me cega, e o meu choro é com razão.
Sento-me
num banco qualquer e olho distraidamente entre os dedos, os fragmentos de vida
vivida e o troco que ainda me resta viver; conto cada nota e cada moeda,
com
um estalo nos lábios e um suspiro profundo de quem pouco que há.
Vou
caminhar um pouco e esperar que os passos vão exercendo a função de borrachas,
Apagando
incessantemente as constatações de todo dia e a lembrança dos tormentos.
Agora,
o novo é ilusão de adolescência, é pedra jogada no espaço sem fundo; o novo
é
cada gota de passado que foi caindo no caminho.
Ainda
assim, vejo vir esse novo, mesmo que por dentro seja o mesmo velho com roupas
de novo, deixo-me enganar.
Rasgo-me
por completo, em vã tentativa de renovação; para ver de dentro sair um como o
outro de antes, sonhador, ingênuo, errante.
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