Passagem
Passaste por mim como uma eletricidade
Afiada, cortante, inesperadamente;
Por entre os labirintos de fósseis e as cruzes
Pelos alicerces e pelas estruturas metálicas
Passaste com fúria, rachando os pisos,
causando levantamentos geológicos
desorganizando, colocando tudo pelo avesso (enviesando)
E hoje, olho os fragmentos e os cacos que antes fui
Olho-os como se fossem estrangeiros a mim
Olho-os e não me reconheço ali
Olho-os com desconforto
Quem dera que aqueles pequenos “eus” que ali estão
Pudessem ser varridos para debaixo do tapete
Quem dera o “eu” pudesse ser esse novo que surgiu
Que depois de sua passagem abotoou uma nova roupa a saiu decidido pelo mundo
Esse novo é mais sincero, é mais sereno
Esse nasceu daquela passagem, daquela ventania, daquele terremoto
É esse que vou regando, vou alimentando, cuidadosamente
Esse, que sem a sua passagem seria ainda aquele
Que deixei enterrado no caminho.
Para L.
Nenhum comentário:
Postar um comentário