sábado, 21 de janeiro de 2012


Ano, novo

Agora, que esperei que algo estranho pudesse acontecer,
Não sei, qualquer coisa, como um sol avermelhado ou um dia mais curto,
As coisas, insistentemente continuam normais.
Agora, que tirei a máscara, e vi o sangue descer pelo rosto,
 O mundo se apresenta com sua lucidez absoluta,
Tudo é inexplicavelmente normal e quotidiano.
Não há novidades, o chão não cede quando pisamos com mais força,
É tudo sólido, rígido.
Agora, que a saudade é uma palavra sem sentido que ficou cravada
Na pedra lisa das minhas angústias; o tempo não se apressa, e me fala com essa linguagem particular que cada um possui.
Nasci de novo para o mesmo mundo meu, e a luz me cega, e o meu choro é com razão.
Sento-me num banco qualquer e olho distraidamente entre os dedos, os fragmentos de vida vivida e o troco que ainda me resta viver; conto cada nota e cada moeda,
com um estalo nos lábios e um suspiro profundo de quem pouco que há.
Vou caminhar um pouco e esperar que os passos vão exercendo a função de borrachas,
Apagando incessantemente as constatações de todo dia e a lembrança dos tormentos.
Agora, o novo é ilusão de adolescência, é pedra jogada no espaço sem fundo; o novo
é cada gota de passado que foi caindo no caminho.
Ainda assim, vejo vir esse novo, mesmo que por dentro seja o mesmo velho com roupas de novo, deixo-me enganar.
Rasgo-me por completo, em vã tentativa de renovação; para ver de dentro sair um como o outro de antes, sonhador, ingênuo, errante.






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